Por que o Brasil depende tanto do transporte rodoviário?

Publicado em 22/06/2018

Por que o Brasil depende tanto do transporte rodoviário?

Legenda: dependencia-brasil-transporte-rodoviario

Brasil é o país que tem a maior concentração rodoviária de transporte de cargas e passageiros entre as principais economias mundiais. 58% do transporte no país é feito por rodovias - contra 53% da Austrália, 50% da China, 43% da Rússia, 32% da Rússia e 8% do Canadá, segundo dados do Banco Mundial.

A malha rodoviária é utilizada para o escoamento de 75% da produção no país, seguida da marítima (9,2%), aérea (5,8%), ferroviária (5,4%), cabotagem (3%) e hidroviária (0,7%), de acordo com a pesquisa Custos Logísticos no Brasil, da Fundação Dom Cabral.

É por isso que a greve de caminhoneiros em curso pode realmente parar o país e provocar uma enorme crise de abastecimento, segundo especialistas em transporte ouvidos pela BBC.

Há quatro dias, os caminhoneiros do país estão paralisados e fazendo bloqueios em rodovias em 25 Estados e no Distrito Federal. O movimento foi iniciado após sucessivos aumentos no preço do óleo diesel, que agora custa R$ 3,59 por litro.

Rodovias primeiro

 

Mas por que, afinal, o Brasil depende tanto do transporte rodoviário de carga e passageiros?

Para Paulo Resende, coordenador do núcleo de Logística e Infraestrutura da Fundação Dom Cabral, os governantes brasileiros nunca priorizaram adotar outros tipos de sistema de transporte porque isso não tem impacto eleitoral.

Essa seria uma das razões, por exemplo, para que o projeto da ferrovia Norte-Sul, que cruzaria o país, nunca tenha saído do papel.

"Já viu alguém inaugurar ferrovia rapidamente pra ganhar eleição?", diz ele à BBC Brasil. "No Brasil, acontece o chamado fator subjetivo, que tem a ver com modelo de gestão de negócios. Os políticos, os burocratas pensam 'Eu tenho que deixar a marca do meu governo, tenho que fazer alguma coisa nova'. Aí todo mundo que entra [num governo], abandona projetos anteriores e cria um novo, que acha que é melhor. O Brasil é pais cuja estratégia é substituir o velho pelo novo, com completo abandono do velho. Você cria uma descontinuidade de projetos. Há uma questão cultural de trabalhar com curto prazo porque é compatível com a agenda eleitoral."

Segundo o especialista, as autoridades cometem um arro ao atribuírem a greve apenas ao elemento caminhoneiro.

"A indústria passou por uma transformação e as políticas brasileiras não acompanharam a transformação. A cadeia de suprimentos, a supply chain, não trabalha mais com grandes estoques, é quase que na hora em todos os setores. Quando você tem uma logística desse tipo, o papel do estoque é substituído pelo do transporte. Não tem estoque mais pra amortecer a demanda", diz.

Na prática, isso significa, segundo ele, que em 3 dias não há mais estoque para a linha de produção. E que em 5 dias já começa o desabastecimento no ponto de consumo, o varejo.

"É o que acontece com essa greve. O setor automobilístico, por exemplo, já está parando. Até sábado, pode haver um grande desabastecimento."

Para o consultor Ejzenberg, o aumento do preço do diesel também não pode ser visto, isoladamente, como o único fator responsável pela insatisfação que levou à greve. Segundo ele, a recessão que o país atravessou recentemente desencadeou uma série de problemas em relação aos fretes - sendo o principal deles, a redução do número de transporte de cargas.

"Um dos principais fatores para essa greve é a falta de trabalho dos motoristas", diz. "Porque muitos caminhoneiros dependem dos fretes para continuar pagando as prestações de seus caminhões."

FONTE: g1.globo.com.br